sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO DE MASSA

Um ótimo comentário sobre uma das maiores publicações na área de teorias da comunicação.

Débora Carvalho

Teorias da Comunicação de Massa, de Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach (Editora Jorge Zahar; 397 páginas; R$ 37,00).

Falar sobre comunicação não é coisa pra qualquer um. É algo que vai além de um simples processo. Como já dizia Vinícius de Morais, em sua poesia "Acontecimento", muitas pessoas possuem inteligência que vão somente até os processos. Isso não pode acontecer com um comunicador.


Os livros sobre teoria da comunicação tentam explicar os processos, mas todos têm o cuidado de deixar bastante claro que o objetivo é ir além deles.

Dois autores muito estudados nas faculdades de Comunicação Social são Melvin DeFleur e Sandra Ball-Rokeach.

O famoso livro da dupla - Teorias da Comunicação de Massa - procura explicar tal processo, assim como se explica uma receita de bolo. Entretanto, logo no início do livro, ambos os autores explicitam as limitações de se paralisar um processo para buscar entendê-lo, principalmente um processo em constante evolução, como é a comunicação.

De Fleur e Ball-Rokeach afirmam que as teorias da comunicação são limitadas e não podem ser tomadas como verdade concreta.

A limitação se dá pelo fato de se estudar um processo, que, como o próprio significado da palavra, é algo que está em constante movimento e transformação. Como qualquer processo explicado pela sociologia, a comunicação acompanha as transformações sociais, crescendo, ampliando, mudando o contexto. Isso ocorre tanto na esfera comunicativa quanto na esfera atingida por tais transformações.

A comunicação muda a sociedade e a sociedade muda as pessoas. Atualmente, muitos autores desprezam e criticam os antigos livros de teoria da comunicação, sem piedade. É preciso raciocinar antes de criticar. Ball-Rokeach e DeFleur, consagrados teóricos da década passada, reuniram em suas obras tudo quanto havia sobre os estudos dos efeitos da comunicação de massa.

Apesar da difícil linguagem, quase ininteligível para leigos e simples leitores, o trabalho foi sério e tem sua validade, a começar pelo grande número de citações e pesquisas.

DeFleur e Ball-Rokeach comparam, na obra, a tentativa de explicar a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade, e vice-versa, como querer explicar o antigo dilema: "Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?"

Ambos esqueceram de se justificar com o fato de que a sociedade nasceu primeiro, portanto, esta criou os meios de comunicação e hoje sofre os efeitos da sua invenção.Sendo assim, não há motivos para criticar ou achar ridículo qualquer antiga teoria.

Quem nunca viu uma pessoa desprovida de identidade viver exatamente como descreve a Teoria da Modelagem?

Pessoas morreram no cinema do Shopping Morumbi em função dos efeitos da mídia explicados pela antiga Teoria da Modelagem, sobre um jovem estudante de medicina.Não podemos, de qualquer modo, estacionar nossos estudos sobre as comunicações de massa.

As teorias mais recentes são válidas no contexto concomitante. Um dia serão substituídas, ou melhor, complementadas com novas teses, assim como as teorias de comunicação apresentadas por Ball-Rokeach e DeFleur estão sendo enriquecidas pelas atuais, como a Teoria da Tautologia, a Teoria da Circularidade, a Teoria da Hipertelia, a Teoria da Comutação e a Teoria da Autonomia do Objeto.Tais teorias não fazem com que as anteriores percam sua validade, tanto em nível de estudo quanto à sua efetivação. Elas precisaram surgir para explicar as novas situações de comunicação de uma sociedade que já nasceu como sociedade de massa e que está em constante crescimento; cuja vida, inclusive dos estudiosos e teóricos, já incorpora os veículos de massa desde o nascimento.

Como afirma De Fleur e Ball-Rokeach, os efeitos da exposição à comunicação de massa a longo prazo só poderão ser revelados com o tempo. As teorias daquele tempo não podiam prever o futuro.

São as novas teorias que estão descobrindo isso, satisfazendo parte da curiosidade que nasceu desde que Hitler utilizou a "Bala Mágica", cujos efeitos só eram possíveis naquela sociedade específica - embora alguns indivíduos ainda absorvam tudo quando a mídia transmite, sem filtros.

O mundo já foi visto como uma máquina e como um organismo, e agora tem sido visto como uma grande confusão.

Que teorias serão desenvolvidas no futuro?

Quais serão os avanços da comunicação?

E a influência da mídia sobre sua audiência continuará sendo a mesma?

Espero que não. O rádio mudou a rotina das pessoas. Hoje, a internet faz a mesma coisa. E amanhã? Entretanto, alguns princípios - como a ênfase dada a determinado elemento da comunicação - continuam fazendo efeito, como a credibilidade da ênfase no emissor, a sociabilidade da ênfase nos intermediários, a intimidade da ênfase no destinatário e o prestígio da ênfase no sujeito histórico.

Tudo depende do ponto de vista, e dos fatores cognitivos e da intermediação social, conforme os velhos teóricos afirmaram, e os atuais confirmam, a começar pelos nomes das novas teorias. As teorias de comunicação precisam ser avaliadas dentro do contexto histórico e sob a perspectiva das teorias sociais do momento em que foram desenvolvidas. Hoje é tempo de repensar os veículos de comunicação de massa e a própria sociedade de massa dentro do contexto tecnológico e do atual estado da sociedade.

Toda essa discussão tem como ventre a obra Teorias de Comunicação de Massa, desenvolvida na tentativa de compreender o processo que move o homem e une pessoas, fantasias e realidades: o processo da comunicação.

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